quarta-feira, 18 de março de 2009

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira

O primeiro e lindo verso declamado por mim, no auditório do Colégio, com tôda emoção de adolescente que eu era.

Mãos



Gosto de mãos que trabalham,
Gosto de mãos que reciclam,
Gosto de mãos que se esforçam
Na luta, na labuta, na enxada, no martelo
Gosto de mãos que tocam
O toque suave no corpo, no teclado,
No pincel, no lápis.
Não gosto das mãos que matam,
Não gosto das mãos que espancam,
Não gosto das bonitas,
Não gosto de mãos de salão,
Das que só erguem taças em comemorações.

Eu gosto das feias mãos.

A traição



Bebeu como se não houvesse mundo no amanhã, aquelas bebedeiras que amolecem tudo, até os intestinos. A boca parecia não ter músculos, teimava em permanecer aberta, os olhos ou a cabeça, sabe-se lá, andavam cada um para um lado na intenção de ir, e não iam, ele tombava a todo instante, sob o peso da carraspana.
Sem poder ir ou vir, dormiu ali mesmo,no chão da sala.
Já no dia seguinte, com tôdas as dores e vômitos da ressaca, se censurava pela fraqueza da bebedeira. O remédio era o chuveiro frio e um Engove.
A campainha tocou e ele se arrastou até a porta. Pelo olho mágico viu o rosto da mãe, que ao entrar e deparar com o filho naquele estado, com um misto de censura, dor e pena estampados no rosto envelhecido ordenou-lhe:
Vá pro chuveiro, menino...
Ela raramente aparecia naquela casa, talvez por intuição materna resolvera aparecer por lá naquela manhã.
Já o havia encontrado assim em outra época, outra briga deles, e já não estranhava mais.
Fabio obedeceu, como se fosse realmente um menino. No banheiro, vomitou, peidou, cagou, chorou até não querer mais.
Ficou um longo tempo confabulando consigo mesmo, sem chegar a conclusões ou decisões pensando no inferno que tinha sido sua vida nos últimos anos. Mas realmente o que mais doía, era o orgulho ferido mortalmente por aquele riquinho metido, a ser melhor do que ele, que tudo conseguira a duras penas, não herdara nada a não ser pobreza.

Há seis anos havia se apaixonado por Dolores, ela mostrou ser uma pessoa autoritária, vazia e rancorosa que ele fingia não perceber, maltratava seus parentes e amigos que começaram a se afastar, só lhes restou um casal, de amigos dela, Lú e Eduardo.
- Afinal eram ricos, gente muito fina... Afirmava ela.
- Ele é muito snobe e ela é idiota, uns “deslumbrados”, dizia Fábio.
Os dias se sucediam entre eles em brigas, mas Fábio mantinha a esperança de que dali há mais um tempo ela voltasse a ser a Dolores que antes do casamento, era tão doce.
Ela queria a vida de festas, roupas caras, viagens, queria a vida de quando era solteira, e sustentada pelo pai...
O dinheiro curto, o apartamento caro que ainda estava pagando, o carro recém-comprado, impedia Fábio de fazer as vontades de Dolores. Ela por sua vez, gastava todo o seu salário pequeno de professora, em supérfluos e vivia pedindo dinheiro ao pai, o que deixava Fábio bem humilhado.
Dolores anunciou assim, na bucha, para o marido, após briga feia de abalar quarteirão, que ia embora, afinal encontrára alguém que a compreendia e valorizava...
- Vá, vai agora, mesmo, e me deixe em paz, e vê se não volta mais dessa vez e deixa a chave...
- Você é que vai me dar paz, seu pé-rapado, nunca me deu nada, agora vou ter tudo...
Fábio cansado de discutir, sentou-se na cama e ficou vendo-a pegar bolsas e um jogo de malas e enchê-las de roupas e sapatos, que aliás era o que ela mais tinha.
A princípio, achou que o novo pretendente não existia, que na verdade ela ia voltar para a casa dos pais, como já fizera outras vezes.
Jogou as chaves sobre a cama e antes de bater a porta atrás de si, ela soltou a bomba:
- Vou morar com Eduardo que está se divorciando da idiota da Lú.

Meses depois: Fábio adormecera no sofá da sala, a campainha toca, acordando-o.
- Deve ser minha mãe, só ela me acordaria de um soninho tão bom...
Arrasta-se até o olho mágico da porta e depara com o rosto de Dolores do outro lado torcendo as mãos e em tom baixo e suplicante:
- Fábio, abre a porta, sei que você está aí, vamos conversar...
Ele, vira as costas, vai até ao aparelho de som e coloca no maior volume o DVD do Cazuza, que ela odiava, e ele amava, desligou a campainha, e voltou a dormir.

Lei de Murphy



Coisa mais irritante essa lei.
Cinco copos sujos inteirinhos, na pia.
Assim que foram lavados, brilhantes... um esbarrão e
Quebram-se todos.
Por que não se quebraram quando ainda sujos?

Natasha, sobrenome:



Gorda, gulosa. Glutona
Obsessiva, obsecada.
Egoísta, egocêntrica.
Possessiva, princesa.
Amada, Assanhada, alegre.
Inteligente.
Bonita, bela, boazinha,
Fiel, feliz
Natália, natalício.