terça-feira, 21 de abril de 2009

Pobre menino Rico






Pobre menino rico
Léah MorMac
A brincadeira rolava todos os dias, a roupa grudada mais na sujeira que no corpo de tanto cair e correr com a bola no campinho.
O jornal da cidade, perto de casa, descartava os tubos de madeira que traziam os papéis que usavam, para eles inúteis, mas para nós era o tesouro! Daquilo criávamos nossos carrinhos de “rolimã de pau” e nossos “patinetes”, e neles era uma descida ladeira a baixo, onde acabávamos nos estabacando e rindo a rodo, nem sentíamos os joelhos e cotovelos ralados e nem chorávamos quando a mãe lavava nossos ferimentos de prazer, com água de sal “– homem não chora!”, era o refrão.
Vestidos no uniforme escolar andávamos a pé até a escola, parece incrível mas sim, andávamos a pé, que aliás era outro prazer, encontrávamos os amigos pelo caminho, e sempre uma brincadeira ou uma aposta para ver quem chegava primeiro, quem corria mais , e sem fôlego e suados entrávamos na sala de aula.
Nunca vi mãe levando filho de carro até à porta do colégio, coisa que nem podíamos imaginar existir, o “automóvel”, como era chamado, quem o tinha era rico.
Subíamos em árvores, para colher a fruta diretamente da fonte e lá, encarapitádos saboreá-las!
Video-game, televisão, MP3, nada disso existia. O que tínhamos era a matinê no cinema poeira nos fins de semana, para vermos as aventuras de Flash Gordon, Tarzã, ou um bang-bang com James Cagnei ou John Waine.
Não tinha traumas psicológicos por ver e desviar-me do tamanco arremessado por minha mãe em minha direção, quando as diabruras aprontadas chegavam no auge.
Se chegássemos tarde em casa, a preocupação não era com pedófilos, raptos, ou balas perdidas, era tão somente para mantermos obediência aos nossos pais, pelas regras da casa.
Os deveres de casa eram pesquisados nas bibliotecas e em enciclopédias, e não na internet. O mundo era real e não virtual, líamos Monteiro Lobato ao invés de ver pela Tv, o sitio do Pica-pau...
Merenda escolar era mingau, nada de fast-food, não tínhamos “mesada” para gastar nas cantinas da escola, nem em praças de alimentação de shopping – nem existia shopping, coisas de agora.
Sei que na minha infância não existiam as tecnologias e modernidades de hoje, que até acho bom, mas sei que foi rica em alegrias, aventuras e prazeres e principalmente liberdade despreocupada, que os pobres meninos ricos de hoje nunca experimentarão.
Fim

P.S.(texto referente a infância de meu marido)