sábado, 25 de abril de 2009

O Espelho




Léah MorMac

As rugas começavam a aparecer, os cabelos antes de um castanho-dourado, eram agora na maioria brancos, palpebras que formavam pregas pesavam sôbre seus olhos, já sem o brilho da juventude. O corpo meio curvado, as pernas meio trôpegas e seus joelhos às vezes doiam sem quê nem porquê
Assim era a figura que se olhava com cuidado no espelho pendurado no pequeno banheiro do apartamento. A velhice chegou junto com a solidão.
Mas todas as manhãs cumpria aquele ritual com o corpo despojado de roupas passava e esticava com paciêcia de Jó um creme hidratante para o rosto, outro para todo o corpo, filtro solar para proteger sua pele tão branquinha, aí, vestia-se e depois de cumprir essa cerimônia matinal, saia para sua caminhada pela beira da praia. Encontrava uma amiga aqui, outra ali, uma conversinha aqui, outra ali, e a caminhada ia ficando só na vontade e intenção; mas conseguia compensar sua solidão e quando voltava para casa, sua mente estava ocupada com as novidades que as amigas lhe haviam contado.
Era hora do segundo ritual: Entrar no chuveiro, afinal estava suada de tanto esforço por andar. E novamente após o banho, o hidratante no rosto, o outro para o corpo, ia esticando e esticando os cremes e falando consigo mesma que ainda era bonita, e jovem e sadia. Não conseguia ou não queria ver a velhice estampada naquela imagem refletida no espelho, só conseguia enxergar a bela mulher que fora antes, bem antes daqueles seus setenta anos.