sábado, 4 de abril de 2009

Lembranças de amor



O casamento estava marcado para as dezoito horas, e a recepção no salão do clube do pai da noiva seria logo após para convidados seletos, a notícia correu pela cidade e a Igreja lotou.
Nina muito magra sobrava dentro do vestido antes perfeito em seu corpo seus olhos verdes estampados no rosto demonstravam estar a ponto de chorar, mexia-se e remexia-se na cadeira, uma música angelical encheu a nave da igreja, por todos os lados rendas, flores e chapéus ia ser chique aquele casamento, pensou, e ela ali sentindo-se mal ajambrada numa roupa que nem parecia ser sua pronta para enterrar seus sonhos.
O noivo, com seus cabelos alourados perfeito naquele fraque, ombros largos, um deus grego. De pé ao lado dos padrinhos, ajeitava a gravata, examinava o chão, talvez para ver se estava firme sob seus pés ou sob sua decisão de casar-se com Marina.
As lembraças começaram a pipocar na mente de Nina, Bruno sempre fora um rapaz interesseiro, e meio preguiçoso, blasfemava diariamente contra sua pobreza, e jurava em voz alta que ainda ia ter dinheiro para gastar a rodo, Nina achava graça daqueles arroubos que ela julgava infantis. Lembrou-se dos beijos e afagos, planos de futuro, as noites passadas juntos num quartinho de Motel, onde ela ouviu juras de amor eterno, até o dia em que ele à queima roupa anunciou que não queria mais aquele namoro estava se sentindo muito preso, era muito novo e não tinha as mínimas condições financeiras para assumir qualquer compromisso. Nem as lágrimas, nem a explosão de Nina socando-o, nada o abalou ou o fez retroceder em sua decisão.
Nina perdeu uns dez quilos num mês, sentava-se perto do telefone na esperança de ouvir a voz de Bruno do outro lado pedindo perdão, à noite chorava até ser vencida pelo cansaço e adormecer, depois veio a raiva, a amargura, a auto desvalorização, a culpa, um turbilhão de sentimentos, mas nunca o esquecimento, nem sua ausência amortecia aquela dor.
Naquela tarde ao sair do trabalho, sabia que precisava trocar de caminho e passar no mercado para atender a um pedido de compras feito por sua mãe.
O chão abriu-se a seus pés ao vê-lo passar abraçadinho com a feia Marina, feia porém filha de pai empresário rico, que Bruno vivia citando como exemplo do que queria ser um dia...
Quantas promessas, quantos sonhos agora decaptados com aquele casamento.
Marina apareceu emoldurada pela porta da igreja, seria um belo quadro não fosse a feiura da noiva. Os cabelos ajeitados extrategicamente no alto da cabeça , a maquiagem perfeita, o vestido lindo num corpo quadrado, nada poderia melhorar sua aparência, seu naris pequeno demais entre as bochechas gordas, todos que a conheciam comentavam parecer um cachorro bulldog.
Andava lentamente olhando todos os rostos à sua volta sentindo-se admirada e invejada, com um sorriso de canto a canto mostrando os dentes imperfeitos, dentro de um vestido digno de uma rainha. Mas a única coisa bonita que ela conseguira fora o lindo noivo que seu pai lhe comprara.

Ao ouvir o sim que Bruno deu respondendo a pergunta do padre, Nina não suportou soltou um grito de dor, levantou-se para cair em seguida desmaiada com o peso da dor.
Acordou na sacristia uma senhora com um terço na mão, e um lenço encardido na outra abanava-a impaciente.
-Menina como se chama, como está se sentindo agora? Que escândalo foi aquele que você fez, querendo atrapalhar a vida dos outros que coisa feia...
Sem nada responder, Nina levantou-se , ajeitou-se dentro da roupa e pronta para ir embora quando o padre apareceu, dispensou a beata e depois de olhá-la severamente mandou-a rezar, ter fé que tudo ia passar...
Nina foi caminhando para sua casa e determinou que aquele seria o dia em que seus sonhos ficaram cegos.
Durante aquele ano as notícias que chegavam até ela eram de que Bruno e Marina se separaram e ele sumiu da cidade
Ela não saberia dizer quanto tempo se passou quando ao atender a campainha da porta, deparou-se com Bruno pedindo para falar com ela à sós.
Nina pensou estar vacinada contra aquele olhar suplicante, o mesmo que jogava em cima dela quando queria amor. Mas sua voz quase falhou quando disse: – Não, não posso estou ocupada. E fechou a porta atrás de si, sentou-se no chão sentindo seu coração acelerar, vontade de chamá-lo de volta, acreditar em suas promessas, chorar com ele o amor desperdiçado, perdido no tempo, socou-se chorou, chorou até não querer mais chorar.
Dias depois outro encontro dessa vez estavam na rua e ela não pode se esquivar.
Ele implorava perdão, e ela acabou cedendo com a condição de se casarem e só então voltariam a se amar. Bruno concordou e marcaram o dia do casorio numa igreja ortodoxa.
Nina, estava linda, adiquirira peso, e seu vestido embora simples realçava sua beleza
A igreja estava cheia, mas sabia que Marina lá estava tentando se esconder num cantinho.
A comoção foi geral quando Nina, respondeu Não a pergunta do padre.
Muitos anos se passaram, nunca mais o viu, mas a chama daquelas lembraças seguiram-na pela vida e hoje, lendo o jornal viu o nome dele na lista dos mortos de um acidente aéreo. Não saberia descrever o que sentiu, só sabe que mais uma vez chorou até não poder mais.
texto por Léah MorMac; imagem anônima

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